domingo, 8 de dezembro de 2019

24 de dezembro...





Um homem caminha na noite quente de verão. Está sozinho. 

Um senhor o chama para entrar em um casarão de esquina.


- Como vai?


- Indo.


- Anda por aí sozinho... Não tem medo de ser assaltado.


- Assaltam um morto?


- Hoje em dia são capazes de tudo. Acredito que nem sabem diferenciar os mortos dos vivos.


- E você está vivo ou morto? 


- Não sei ao certo, há momentos que me sinto vivo e outros, morto. Venha comer, a mesa está posta.


***


- Coisas deliciosas. Os sabores me lembram de quando era alguém.


- Comigo acontece o mesmo. Antigamente, esta casa vivia cheia de gente.


- Quem é você? O que quer de mim?


- Sou o que sinto e não quero nada de você, só sua companhia.


- É tão difícil acreditar, pois sempre alguém quis algo de mim.


- Mas, não quero nada. Coma... Veja tevê....


- Quero tomar um banho.


- Sim. Dou-lhe roupa limpa.


- Não precisa.


- Não tenha medo de aceitar. 


***

A água fresca percorre seu corpo suado e empoeirado. Não pensou mais, entrou no terreno dos sentidos. Se tivesse que pagar um preço caro por esse intervalo, não iria reclamar.

***

- Quer dormir?
- Como?
- Tem um quarto sobrando.
- Não sei.
- Não tenha medo.
- Está bem.

***
O sol invadiu seus olhos. Encontrou ao seu lado, uma mochila de roupas e um dinheiro no bolso da frente.

Foi embora atônito, pois não sabia o que fazer. Nunca experimentou tanta generosidade. Sentiu-se num conto surreal.



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