Antônio tinha
passado a noite na casa de um amigo, quando retornou, teve a triste surpresa do
sumiço do cachorro Golias. Quem deu a notícia, rapidamente, foi sua mãe, que estava
mais preocupada com os preparativos natalinos.
Antônio achou estranho
e foi procurar o cão. Era inusitado, Golias fugir por aí. Nunca saía de
perto da casa e nem do menino, eram amigos inseparáveis. Começou a perguntar
pela vizinhança se alguém viu Golias e ninguém tinha notícia. Um bêbado sem
rumo, conhecido no bairro, aproximou-se. Comentou que viu a mãe do garoto na
direção do descampado, segurando uma trouxa de lençol.
No início, Antônio
não deu importância, mas, um pensamento o martelava. Resolveu
checar. Encontrou uma cruz fincada no chão e a terra parecia que foi
mexida recentemente. Respirou fundo e começou a cavar com as mãos. O bêbado se
aproximou com a pá e o ajudou. Algo parecido com
Golias estava lá. Antônio sabia que era seu cachorro, porém, a impressão que
tinha, era de estranhamento. O bêbedo lhe disse que quando a alma se esvaía do
corpo, transformava-se em algo sem sentido.
Antônio voltou para
casa com Golias no colo. Alguns parentes haviam chegado e levaram um susto com
a cena. A mãe aos prantos disse ter sido acidente. Ela acordou bem cedo
para fazer as compras, entrou no carro e quando saiu da garagem, teve a
sensação do automóvel passar em cima de algo. Ouviu um ganido, em seguida,
silêncio. Desesperada, para não estragar o natal e nem deixar o filho triste,
elaborou o plano de fuga do cachorro. Já tinha a desculpa montada e
compraria outro cão, para o filho se distrair.
O episódio trágico
em pleno dia de natal tornou-se uma revelação para Antônio. Foi a
primeira vez que percebeu que sua mãe não era perfeita. Além, do inédito
contato com a morte de “alguém” querido. Também, não se pode esquecer, da descoberta de
que se precisa sempre levar em consideração qualquer pessoa. Quem se solidarizou
e o ajudou a desvendar o mistério do desaparecimento de Golias, foi um mendigo
vadio.