Foi tudo tão estranho que nem sei
se vou
reproduzir os fatos fielmente.
Nesse dia, o calor era insuportável. Todo mundo tomava banha
de mangueira para
se refugiar. Tinha a sensação de que minha mente iria se
dissolver. Um cheiro de
fossa pairava no
recinto. No calor tudo apodrece rapidamente
e era insuportável o cheiro de
suor, mesmo disfarçado com desodorantes
e perfumes. O céu azul e
sem nuvens tornava-se uma
maldição.
Ao anoitecer, a ceia estava preparada
e o ar-condicionado ligado. Era um oásis para gente.
Todavia, quando a noite
avançava, o aroma de putrefação invadia
o ambiente. Não adiantava fugir da
realidade. De súbito, ratos, baratas, moscas e formigas
dominaram a casa
por um átimo de
segundo, devorando qualquer coisa
que vissem.
As lembranças desse dia ainda estão
vivas em mim. Consigo ver nitidamente as criaturas nojentas comendo a ceia em
cima da mesa, depois, avançando em todo mundo e os gritos.
Consegui sair da casa e
corri o mais rápido que
pude. O mundo que eu conhecia era
outro. Vi ondas de criaturas repugnantes
transformando a cidade em ruínas
e o cheiro de podridão
cada vez mais forte.
De repente, meu corpo virou uma pequena
montanha de bosta.
***
- Pronto, já contei uma história
de terror natalino. Pra
cama, já!
- Não tive medo, ela
não valeu.
-
Estou sem inspiração.
- Pois é, uma
história super boba.
-
Vai dormir logo.
-
Tá... Espera! Sinto um cheiro
esquisito e vi algo passar
rapidamente pela porta.
- Realmente,
que cheiro fedido é este?
-
Tem um rato enorme na árvore
de Natal!
-
Que nojento!
-
Precisa matá-lo.
- Acho melhor a gente se trancar no quarto
e ligar o ar. Neuza
vem amanhã e dará um jeito nele.