APARTAMENTO 101
Antônio está de cueca, sentado na poltrona. Bebe cerveja e assiste a tevê. O telefone toca... Uma... Duas... Várias vezes. Ele não atende. Sempre fica triste nesta época, lembra-se das pessoas que já se foram. A campainha toca e ele se arrasta até a porta. Quem poderia ser? É Marinalda, vizinha do 202:
– Vem passar o natal lá em casa, seu Antônio, tem tanta coisa...
– Não sei... Não sou boa companhia...
– Se demorar muito, venho e te carrego pelas orelhas.
APARTAMENTO 202
Marinalda mora com o filho, que é muito frágil de saúde. Para animá-lo, ela sempre inventa festas.
Só é ela e ele.
APARTAMENTO 303
Laura está na praia. Olha fixamente o mar. Sente falta de alguém... Decide caminhar pelo calçadão e, depois de alguns passos, esbarra num homem que parece conhecido.
– Você é o vizinho do 501, não é?
– Sim. Sou o Pedro.
– Pois é, não te reconheci de primeira, quase não te vejo. Moro no 303.
– Sei. Eu trabalho muito...
– Eu sou Laura...
– Muito prazer Laura!
_ Pensei que estivesse viajando.
_ Não. Eu vou ficar em casa mesmo!
_ Ah! Eu vou passar o Natal com a Marinalda do 202, se não tiver outro compromisso!
_ Não fui convidado.
_ Foi sim, por mim, então o que me diz?
APARTAMENTO 501
Pedro não para em casa e não possui vínculo com ninguém. Devido à sua "profissão". Precisa ser discreto para não levantar suspeitas e, às vezes, de tão discreto chega a ser imperceptível.
Como nunca fica muito tempo num mesmo lugar, prefere não ter motivos para sentir falta dos lugares por onde passa, mas desta vez um belo rosto o seduziu. A jovem Laura com seus cabelos negros e seu sorriso triste.
A CEIA DE NATAL
Pedro e Laura trocam olhares. Marinalda e Antônio apreciam a felicidade de Lucas diante do presente de Natal: um computador.
Estão entregues à felicidade, principalmente, por terem um breve abrigo da solidão.